“É um grande momento”, celebra a ministra da Cultura, que vê na COP uma congregação de diferentes culturas, pensamentos, religiões – a diversidade humana – mobilizada para salvar a vida no planeta
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, considera que todas as formas de cultura podem estimular a reflexão e contribuir para que a população compreenda o cenário de mudança climática. “A cultura é ferramenta de conscientização, mas também da mudança de comportamento em relação aos nossos ativos da natureza”, afirma, em entrevista Graziele Bezerra, do Canal Gov, em Belém.
Margareth fala do “artivismo” como fonte agregadora tanto de produção quanto de consciência. E da economia criativa como ferramenta de desenvolvimento humano e de desenvolvimento social – além ajudar a impulsionar ainda mais um setor que já responde por mais de 3% do PIB brasileiro.
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Ministra, como a arte e a cultura podem contribuir para enfrentar as mudanças climáticas?
As mudanças climáticas estão acontecendo, e estão afetando os patrimônios, não só o patrimônio material, os prédios, os museus, mas também as pessoas, né? As pessoas que trabalham, o artesanato, gente que tem estúdio, de uma maneira geral. Nós tivemos um exemplo disso muito forte no Rio Grande do Sul, né? E naquele momento o Ministério da Cultura teve que fazer uma ação emergencial, então aquilo deu para nós a dimensão do que é, o prejuízo que é.
É muito mais barato fazer a prevenção do que esperar uma ação dessas que traz um prejuízo que até hoje nós estamos aí no caminho de reestruturar. Então, essa é a grande contribuição, reunir pessoas que trabalhem com cultura, que trabalhem com essa resiliência para trazer suas experiências e isso nós estamos chamando de um plano de ação.
Então, é a primeira vez que a cultura é considerada uma estratégia dentro de uma COP. O Brasil está trazendo isso, e nós também estamos aí trazendo a ideia de um plano de ação de todos os países que têm experiências com isso para a gente implementar em relação ao patrimônio e em relação também aos trabalhadores e trabalhadoras da cultura. Nós estamos com várias mesas, com vários fóruns discutindo isso dentro da COP. E para nós tem sido uma experiência muito valiosa.
Agora, uma expressão que tem ganhado repercussão aqui dentro da COP, justamente nesse sentido também de envolver a arte, é o “artivismo”. É necessário, então, esse “artivismo”?
Com certeza, inclusive eu estive no fórum Artivismo em Salvador, que aconteceu um pouco antes de vir para cá, para a COP, e para nós é muito importante a gente entender que existem pessoas, jovens, instituições, pessoas se movimentando sobre isso no mundo inteiro. E essa união de forças é um fórum que consegue congregar gente de todo lugar. E colocar esse pensamento, falar do que está acontecendo, exigir das autoridades também que isso seja observado com a importância que tem, faz parte desse artivismo. Então, são artistas, produtores, escritores, gestores, pessoas que trabalham no mundo inteiro trazendo a arte como uma forma de chamar a atenção, como uma ferramenta também de conscientização da população.
Nós temos aí um evento que foi chamado pelo Brasil, que é esse mutirão, o presidente Lula falou essa palavra, mutirão, uma palavra indígena. Então nós estamos fazendo essa campanha desse grande mutirão, implementado pela ministra Marina da Silva, e a cultura está sendo uma ferramenta de repercussão disso, desse chamamento. Usar a cultura como uma ponte entre o que precisamos fazer e a implementação disso e a conscientização da população da necessidade desse momento, para a gente conseguir pelo menos diminuir os efeitos do que estamos vendo do desequilíbrio climático.
E tudo isso aliado a políticas públicas já desenvolvidas no Ministério da Cultura?
O Ministério da Cultura, desde 2024, começamos a conseguir realmente sair daquele processo da reconstrução, nós começamos a implementar essa temática cultura e clima, cultura e sustentabilidade, dentro das nossas ações, do que chamamos de sistema MIC, ou seja, dentro de todas as áreas da cultura, um dos temas que nós estamos trazendo constantemente é essa questão.
Então, já fizemos dois fóruns internacionais, fizemos um em 2024 em Salvador, fizemos um agora no Rio de Janeiro, antes da COP, e nós temos ações também dentro do Ministério da Cultura, para o ano nós teremos a Teia, que é a congregação de todos os pontos e pontões de cultura do projeto Cultura Viva, que vai discutir sobre isso também.
Estamos estimulando que todas as áreas culturais possam refletir e trazer reflexão, para que a população entenda a necessidade e o valor, tanto da cultura como ferramenta de conscientização, mas também da mudança de comportamento em relação aos nossos ativos da natureza.
Agora, ministra, é uma ambição brasileira incluir a cultura nas metas de desenvolvimento social?
É uma ambição não só do Brasil, é uma ambição de vários países. Eu faço parte, representando o Brasil, de um colegiado, que são ministros da cultura, amigos do clima, e esse colegiado é integrado por 64 países, e o Brasil preside junto com Emirados Árabes. E isso é uma grande mobilização para que a cultura venha a ser considerada um dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), porque isso muda completamente a maneira dos países de pensar, fazer e ter as políticas culturais.
Um dos elementos importantes, por exemplo, da cultura é a economia criativa. A economia criativa é uma ferramenta de desenvolvimento humano, de desenvolvimento social e incide sobre a economia.
No Brasil já temos uma leitura que 3,11% do Produto Interno Bruto brasileiro é gerado pelo setor cultural, e nós agora resgatamos a Secretaria de Economia Criativa no âmbito do Ministério da Cultura. Vamos lançar agora em novembro essa política de economia criativa, porque a gente entende que o Brasil tem a arte e a cultura no DNA do povo.
Agora, para quem está aqui, a COP também é uma exposição de arte, com tantos estandes estrangeiros com suas culturas.
É isso, a gente tem que entender, o mundo é muito grande, tem coisa acontecendo em todo lugar, culturas que têm uma dinâmica totalmente diferente da nossa, pensamentos, religiões diferentes das nossas, mas o que congrega hoje essa união é a gente salvar o planeta, salvar a natureza, porque nós estamos salvando as nossas próprias vidas. Então, isso que está acontecendo aqui, essa congregação, você poder chegar aqui e ver justamente pessoas de todos os lugares, eu acho que é um respiro, e é também um sinal de que as coisas podem ser pensadas de maneiras diferentes.
Existem experiências no mundo que podem também reorganizar a maneira de a gente conviver, de entender e respeitar a dinâmica da diversidade, para a gente implementar o que estamos precisando, essa resiliência, esse socorro a quem está sofrendo com esse desequilíbrio climático, e prevenção também em relação a isso.
Eu acho que é um grande momento, a humanidade está aí em movimento, gente querendo puxar esse barco para uma direção melhor. A gente não quer ir rumo ao caos, a gente não quer deixar esse calorzão acabar com todo mundo, vamos trabalhar para reverter isso. É possível.
Acho que ainda tem vários dias ainda de COP, e muita coisa para acontecer. Mas eu já estou feliz, quero agradecer ao presidente Lula por essa ousadia de ter trazido a COP para cá, o fundo (Florestas Tropicas em Pé Para Sempre, TFFF) já tem mais de US$ 5 bilhões. Ontem eu soube que o Banco Mundial vai colocar US$ 1 bilhão para infraestrutura das cidades da região amazônica. Então, são já ativos positivos dessa COP trouxe. Isso que é o mais importante, os passos que estamos conseguindo dar, porque isso é para o nosso futuro, é para as futuras gerações, é para a continuidade da vida, é para a preservação da nossa memória, do nosso presente e do nosso futuro.