Em Belém, presidente apresentou balanço das negociações do evento, acompanhado pelo presidente da Conferência, André Corrêa do Lago, e da ministra Marina Silva
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou nesta quarta-feira (19/11) um balanço das negociações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 30), em Belém, capital do Pará. Durante a ocasião, Lula defendeu que as lideranças globais assumam metas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Iniciada no dia 10 deste mês, a COP 30 será realizada até sexta-feira (21).
“É preciso que as pessoas tenham consciência que todo mundo tem que ter muita responsabilidade. E é por isso que nós colocamos a questão do Mapa do Caminho. Porque é preciso a gente mostrar para a sociedade que nós queremos, sem impor nada a ninguém, sem determinar o prazo, que cada país seja dono de determinar as coisas que ele pode fazer dentro do seu tempo, dentro das suas possibilidades. Mas nós estamos falando sério. É preciso que a gente diminua as emissões de gases de efeito estufa”, ressaltou Lula.
O Mapa do Caminho é uma proposta do Brasil na COP 30, que define planos de ação e metas concretas para a redução do uso de combustíveis fósseis em todo o mundo.
Lula abordou o desafio que foi levar a conferência para uma cidade que não costuma sediar grandes eventos mundiais. “Eu, desde o início, não tinha dúvida que a gente ia fazer a melhor COP de todas as COPs que foram realizadas até agora”, disse. “Era muito importante para nós colocar a Amazônia como ela é, do jeito que ela é, na cabeça dos povos do mundo inteiro”, explicou. “Hoje, as pessoas conhecem que não só existe uma cidade chamada Belém, onde nasceu Jesus Cristo, mas que existe também a Belém do Pará, do povo brasileiro, um povo extraordinariamente simpático, agradável e generoso”, completou.
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COP do povo
O presidente também ressaltou que a COP 30 se diferenciou das demais por ter tido ampla participação de diversos setores da sociedade. “Todo mundo tem um papel na sociedade e essa COP foi um pouco isso. Por isso que ela foi feita em Belém. Aqui o povo participou mais. Esta aqui pode ser chamada a primeira COP do povo do mundo inteiro, porque aqui teve gente do mundo inteiro fazendo suas manifestações”, declarou.
DIÁLOGOS — Durante a apresentação do balanço, o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, fez um resumo da agenda do dia. “Foi um dia muito bom, no qual nós tivemos encontros com alguns dos grupos negociadores. Conversamos sobre alguns dos temas mais complexos da negociação: adaptação, financiamento, o propósito do Mapa do Caminho. Tivemos também encontros com a sociedade civil, com o setor privado e com governos subnacionais, nos quais nós discutimos as imensas consequências da COP 30, do ponto de vista econômico e de valorização de aspectos das consequências do combate à mudança do clima”, relatou.
APORTE NO TFFF — Já a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou a evolução do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), lançado pelo Brasil. “Tivemos a alegria de saber que a Alemanha fez o anúncio do seu aporte. E esse aporte é da ordem de 1 bilhão de euros para o TFFF, graças a todo o esforço que vem sendo feito e numa demonstração de que, de fato, esse instrumento de financiamento global é muito bem desenhado, muito bem estruturado e começa a dar as respostas”, afirmou.
O TFFF cria um novo modelo de financiamento climático: países que preservam as florestas tropicais serão recompensados financeiramente por meio de um fundo de investimento global. Enquanto isso, os investidores recuperam os recursos investidos, com remuneração compatível com as taxas médias de mercado. Na prática, o fundo cria uma nova economia baseada na conservação, tornando a floresta em pé uma fonte de desenvolvimento social e econômico.
Confira o que mais disse Lula em Belém
PARTICIPAÇÃO PLURAL — A participação do povo foi extraordinariamente bonita, ordeira e todos entregaram documento para nós. Estou muito feliz porque pela primeira vez na história das COP, 3.500 indígenas participaram. E porque as mulheres não são objeto nessa COP. As mulheres têm que ser tratadas como uma questão de gênero, merece ser tratada com respeito na participação plena, porque as mulheres não são cidadãs de segunda classe. E é preciso fazer com que nós dirigentes aprendamos isso. O mínimo de colaboração que a gente pode dar é tentar fazer inovação, inovação no nosso comportamento, na nossa visão de nova sociedade, no nosso comportamento, uma nova compreensão do que significa o ser humano nesse planeta.
COMPROMISSO — Todos os dirigentes do mundo têm que saber que cuidar do clima é cuidar da manutenção e da existência do planeta Terra, porque ainda não encontramos outro lugar para nós sobrevivermos. Cuidar do clima é saber que os países ricos precisam ajudar os países pobres, de que é preciso colocar dinheiro para que as pessoas que têm floresta em pé mantenham suas florestas em pé, para que as pessoas possam saber que mantendo a floresta em pé, ele pode ganhar mais do que derrubando as florestas. Manter a nossa água limpa é um compromisso de manter o planeta funcionando. Isto não é uma coisa abstrata.
Matriz diversa
Se o combustível fóssil é uma coisa que emite muitos gases, nós precisamos começar a pensar como viver sem combustível fóssil e construir a forma de como viver. E falo isso com muita vontade, porque sou de um país que tem petróleo. Mas também sou de um país que mais utiliza etanol misturado à gasolina. Sou de um país que produz muito biodiesel e o nosso biodiesel já contém 15% de biodiesel misturado. Sou de um país que tem 87% da sua energia elétrica limpa — e eu quero que todos tenham.
E para isso, os países pobres têm que ser ajudados pelos países ricos. Os países ricos podem ajudar a transição energética africana, a produção de biocombustível, a produção de eólica e de solar. Não é apenas um pouco de dinheiro, é transferência de tecnologia, de conhecimento. É ajudar os países a dar um salto de qualidade.
BUSCA PELO CONSENSO — Eu acho que a minha equipe que está negociando vai conseguir fazer as melhores negociações possíveis. A gente vai conseguir convencer, porque numa COP a gente não impõe nada. Tudo tem que ser por consenso, tudo tem que ser muito conversado. E nós respeitamos a soberania política, ideológica, territorial e cultural de cada país. Não queremos impor nada. Queremos apenas dizer: é possível. E se é possível, vamos tentar construir juntos. Por isso, eu estou feliz.
Declaração à imprensa do Presidente Lula na COP 30 – 19 de novembro de 2025
Embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP 30
Boa tarde a todos. Todos podem ver pelo humor do presidente que foi um dia muito bom. Hoje foi um dia no qual nós tivemos encontros com alguns dos grupos negociadores, conversamos sobre alguns dos temas mais complexos da negociação, seja adaptação, seja financiamento, seja o próprio Mapa do Caminho. Tivemos, portanto, encontro com vários dos grupos negociadores. Tivemos também encontro com sociedade civil. Encontros também com o setor privado e governos subnacionais, nos quais nós discutimos as imensas consequências da COP 30 do ponto de vista econômico, do ponto de vista de valorização de aspectos das consequências do combate à mudança do clima, e que comprovam que esta agenda é uma agenda que agora cobriu basicamente todas as atividades humanas.
Por isso havia aqui uma variedade imensa de atores e de personalidades, que buscaram não só apoiar a negociação, mas também apoiar todo o exercício de implementação que se desenvolveu ao longo da COP 30.
Então, ficou muito clara essa transição entre as COPs para negociação, que continuarão a ser absolutamente essenciais para as negociações, mas também a COP que criou os documentos que já permitem que nós possamos implementar muitas das coisas que são necessárias para combater a mudança do clima.
Eu acho que todos vocês têm ido, tanto na Zona Verde como na Zona Azul, a dezenas de atividades mostrando uma quantidade impressionante de iniciativas, as mais variadas, não só no nível subnacional, mas no nível científico, no nível do setor privado, no nível da sociedade civil. Ou seja, o debate na sociedade foi muito intenso.
Claro, com a sociedade civil, discutimos a Cúpula dos Povos, discutimos a participação intensa dos indígenas na COP, conversamos sobre a participação dos movimentos sociais na COP e do quanto a questão de transição justa é absolutamente essencial.
Outro tema muito importante levantado por vários dos países foi a questão de gênero. Nós vamos ter aqui, nessa COP, uma evolução muito importante do tratamento de gênero e mudança do clima. Portanto, presidente Lula, eu podia ficar aqui várias horas; mas você tem que voltar à Brasília. Então, é isso. Obrigado, presidente, por ter vindo.
Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima
Boa noite a todos, a todas. Muito obrigada, presidente, por toda essa dedicação que o senhor tem dado à COP 30. O senhor veio na abertura da COP, na cúpula e agora nessa fase decisiva. É uma demonstração do seu empenho com um dos maiores desafios que a humanidade já teve de enfrentar, que é o problema da mudança do clima, sobretudo olhando para os mais vulneráveis.
Os temas abordados, os grupos com os quais dialogamos até agora, num profícuo diálogo em que o presidente chega aqui, não é? Vocês o veem revigorado e bem-humorado. Já foi abordado pelo presidente da COP, o embaixador Corrêa do Lago.
Eu vou falar de algo que é bastante animador, o nosso TFFF, onde vocês estão todos o tempo todo perguntando como as coisas estão evoluindo. E tivemos a alegria de que a Alemanha fez o anúncio do seu aporte.
Esse aporte, e o presidente continua instando o concurso entre Alemanha e Noruega, mas na ordem de 1 bilhão de euros para o TFFF. Graças a todos os esforços que vêm sendo feitos e numa demonstração de que, de fato, esse instrumento de financiamento global é um instrumento muito bem desenhado, muito bem estruturado e que começa a dar as respostas.
Junto ao secretário-geral da ONU, o presidente Lula entregou ao Antonio Guterres a nossa carta de ratificação sobre o Acordo sobre Diversidade Biológica Marinha em Áreas Além da Jurisdição Nacional, o BBNJ, que é uma conquista, um esforço, um interesse muito grande do presidente antes de ir para a COP dos Oceanos.
A primeira-dama também se envolveu pessoalmente e hoje entregamos para o secretário. E nós, do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Gestão, minha colega ministra Esther do Dweck, estamos muito felizes. O tema tratado de adaptação, mitigação, transição justa, conversando com os diversos grupos, obviamente, que tem as suas complexidades; mas o presidente sempre apresentando caminhos e maneiras de caminhar, entregando a responsabilidade aí para todos nós, particularmente para a nossa competente diplomacia.
A questão do Mapa do Caminho é um tema que tem suscitado o debate por todos vocês e pela sociedade, de modo geral, a comunidade científica, e todos tinham perguntas; mas, com certeza, tivemos boas respostas. Não respostas definitivas; mas respostas processuais, pois o Mapa do Caminho é a possibilidade que países desenvolvidos e em desenvolvimento possam estabelecer suas trajetórias da melhor forma possível, para fazer a transição, para sair da dependência de combustível fóssil e para frear o desmatamento.
Isso significa, com certeza, estabelecer uma linguagem que respeite as demandas de países em desenvolvimento, que aumente as responsabilidades de países que, historicamente, emitem mais e têm mais tecnologia e mais recursos financeiros; mas que todos estaremos nessa equação buscando as melhores formas de caminhar.
É um diálogo profícuo. Ninguém tem uma resposta pronta e acabada. Ninguém quer impor nada a ninguém, mas tenho certeza que temos ainda muito chão pela frente para estabelecer consensos. Eu acredito no consenso progressivo, quando todos temos a intenção de dar o nosso melhor pelo clima, pela dignidade dos mais vulneráveis, porque a ética sempre dá as respostas técnicas, para os grandes desafios que temos.
Presidente Lula
Olha, eu queria, primeiro, agradecer o trabalho que vocês estão fazendo nessa COP. Quero agradecer à imprensa brasileira, à imprensa estrangeira, porque, no fundo, no fundo, no fundo, são vocês as pessoas que conseguem transmitir a quem não está presente a cara dessa cópia.
Eu, desde o início, não tinha dúvida que a gente ia fazer a melhor COP de todas as COPs que foram realizadas até agora. E aceitar o estado do Pará e a cidade de Belém como espaço geográfico para que a gente pudesse realizar aqui um evento que não é nosso, que é um evento, evento da ONU, foi um desafio e muita ousadia, porque seria muito mais fácil fazer no lugar que já tivesse tudo pronto e que a gente não tivesse que ter nenhum desafio para trazer a uma cidade que muitos brasileiros sequer conhecem.
Eu quero agradecer a vocês outra vez por isso. Hoje eu tenho certeza que a China conhece Belém. Hoje, eu tenho certeza que Berlim conhece Belém. Hoje, eu tenho certeza que Paris conhece Belém. Hoje, eu tenho certeza que a Rússia, hoje, conhece Belém. Eu tenho certeza que muita gente do sul do país, do meu país, hoje, conhece Belém.
Era muito importante para nós colocar a Amazônia como ela é, do jeito que ela é, na cabeça dos povos do mundo inteiro. Eu tenho certeza que hoje as pessoas conhecem que não só existe uma cidade chamada Belém, que é onde nasceu Jesus Cristo, mas que existe Belém do Pará, do povo brasileiro, um povo extraordinariamente simpático, agradável e generoso, que vocês devem ter participado.
Se vocês da empresa ainda não dançaram carimbó, por favor, vá dançar um carimbó. Vá comer, sabe? A melhor culinária que nós temos nesse país aqui. E vá se divertir, porque isso aqui é um povo extremamente generoso e simpático.
Eu, sinceramente, eu estou muito feliz. Eu saio daqui agora, eu vou para Brasília. Amanhã vou para o salão do automóvel, que fazia 8 anos que não funcionava em São Paulo. E depois eu vou para Joanesburgo, na reunião do G20, e depois eu vou em Moçambique fazer outra visita de Estado a um país africano.
Mas eu não poderia deixar de dizer para vocês que essa COP, ela é diferenciada. Primeiro porque ela teve representação de muita gente, de empresários. Eu não sei quantas vezes uma primeira-dama trabalhou tanto em uma COP como a Janja trabalhou. E ela não tava aqui porque era minha mulher, ela tava aqui porque ela tinha uma função, ela tinha uma representação dada pela presidência da COP para que ela percorresse o Brasil e o mundo falando da participação das mulheres. Como teve gente falando dos empresários, como teve a juventude falando da juventude.
Porque uma coisa que precisamos colocar na cabeça dos dirigentes do mundo inteiro é que esses eventos não podem ser perpetuamente litúrgicos, em que só participa pouca gente e, muitas vezes, em lugar cercado de polícia por tudo quanto é lado, cercado de arame farpado por tudo quanto é lado.
A primeira vez que fui a uma reunião do G7, em Evian, na França. Depois eu fui em uma na Escócia, e eu vi tantos arames farpados, tanta coisa. Eu fiquei imaginando os líderes que participam dessas reuniões tão protegidas é porque sabem que não estão fazendo a coisa certa, porque, se tivessem fazendo a coisa certa, não precisavam ter tanto medo do povo de cada país.
Eu estou muito feliz também, porque a marcha do povo, a participação do povo foi extraordinariamente bonita, ordeira, onde todos entregaram o documento para nós. Estou muito feliz porque, pela primeira vez na história das COPs, 3.500 indígenas participaram; porque as mulheres não são objeto nessa COP. As mulheres têm de ser tratadas com uma questão de gênero. Merecem ser tratadas com respeito na participação plena, porque as mulheres não são cidadãos de segunda classe. É preciso fazer que nós, dirigentes, aprendamos isso.
Um mínimo de colaboração que a gente pode dar é tentar fazer inovação: no nosso comportamento, na nossa visão de nova sociedade, em uma nova compreensão do que significa um ser humano nesse planeta.
Qual é o papel da juventude? Qual é o papel das mulheres? Qual é o papel do homem? Qual é o papel dos negros? Qual é? Sabe, todo mundo tem um papel na sociedade.
Essa COP foi um pouco isso, por isso que ela foi feita em Belém, uma cidade que, segundo muita gente no Brasil, não estava preparada para fazer a COP. Isso aqui fez uma COP melhor do que a COP de Copenhague, do que a de Dubai, do que a de Paris, do que a de Londres, do que a de qualquer lugar, porque aqui o povo foi mais povo, o povo participou mais.
Por isso que a COP não é uma COP do embaixador André, presidente da COP 30, ou do Guterres, secretário-geral da ONU, ou uma COP do Lula, presidente da República. Esta aqui pode ser chamada a primeira COP do povo do mundo inteiro, porque aqui teve gente do mundo inteiro, fazendo suas manifestações.
Dito isso, eu queria dizer para vocês uma coisa extremamente importante: os líderes que dirigem os países do mundo hoje precisam compreender que, se a gente não tiver um comportamento de acordo com aquilo que é a aspiração do povo, da juventude, das mulheres, nós estaremos colocando em risco uma coisa chamada democracia; estaremos colocando em risco uma coisa chamada multilateralismo; estaremos colocando em risco uma coisa chamada credibilidade.
Porque, se nós não fizermos aquilo que geramos de expectativa para as pessoas, as pessoas não têm porque confiar nas suas lideranças. A questão do clima não é mais apenas uma visão acadêmica, de meia dúzia de intelectuais, de meia dúzia de ambientalistas. A questão climática é uma coisa hoje muito séria, que coloca em risco a humanidade.
Por isso nós tratamos isso com muita seriedade; todos os dirigentes do mundo têm de saber que cuidar do clima é cuidar da manutenção e da existência do planeta Terra, porque ainda não encontramos outro lugar para nós sobrevivermos.
Cuidar do clima é saber que os países ricos precisam ajudar os países pobres, que precisam colocar dinheiro para que as pessoas que têm floresta em pé mantenham suas florestas em pé; para que as pessoas possam saber que, mantendo a floresta em pé, ele pode ganhar mais do que derrubando a floresta. Manter a nossa água limpa é um compromisso de manter o planeta funcionando. Isso não é uma coisa abstrata.
Nós precisamos convencer as pessoas de que os bancos multilaterais, que cobram uma exorbitância de juros dos países africanos e dos países pobres da América Latina, precisam transformar parte dessa dívida em investimento para que a gente possa fazer que a questão da transição energética seja verdadeira.
As empresas petroleiras têm de pagar uma parte disso. As mineradoras têm de pagar uma parte disso. As pessoas que ganham muito dinheiro têm de pagar uma parte disso, porque, caso contrário, quem vai sofrer é a parte mais pobre do planeta Terra. São as ilhas, são os pobres da África, da América Latina, da Ásia. É preciso que as pessoas tenham consciência que todo mundo tem de ter muita responsabilidade.
Por isso nós colocamos a questão do Mapa do Caminho. É preciso a gente mostrar para a sociedade que nós queremos, sem impor nada a ninguém, sem determinar o prazo. Cada país é dono de determinar as coisas que ele pode fazer dentro do seu tempo, dentro das suas possibilidades; mas que nós estamos falando sério.
É preciso diminuir a emissão de gás de efeito estufa. Se o combustível fóssil é uma coisa que emite muito gases, nós precisamos começar a pensar como viver sem combustível fóssil e construir a forma de como viver.
Falo isso muito à vontade, porque sou de um país que tem petróleo; sou de um país que extrai 5 milhões de barris de petróleo por dia, mas também sou do país que mais utiliza etanol misturado na gasolina; sou de um país que produz muito biodiesel, e o nosso diesel já contém 15% de biodiesel misturado; sou de um país que tem 87% da sua energia elétrica limpa. Eu quero que todos tenham.
Para isso, os países pobres têm de ser ajudados pelos países ricos. Os países ricos podem ajudar a transição energética africana, a produção de biocombustível, a produção de eólica, solar, tudo. Não é apenas um pouco de dinheiro, senão transferência de tecnologia, de conhecimento, ajudar os países a dar um salto de qualidade.
Acho que a minha equipe que está negociando, dois homens e uma mulher, ela mais inteligente do que os dois, que a gente consiga fazer as melhores negociações possíveis, que a gente consiga convencer, porque, em uma COP, a gente não impõe nada: tudo tem de ser por consenso, tudo tem de ser muito conversado.
Nós respeitamos a soberania política, ideológica, territorial e cultural de cada país. Não queremos impor nada, queremos apenas dizer: “É possível?”. Se é possível, vamos tentar construir juntos; por isso eu estou tão feliz. Estou tão feliz que um dia haverei de convencer o presidente dos Estados Unidos que a questão climática é séria, que o desenvolvimento verde é necessário. Estou tão feliz que eu sonho um dia até acabar com a guerra da Rússia e da Ucrânia. Não existe mais razão dessa guerra continuar.
Sou tão feliz que saio daqui para ir à Brasília, certo que os meus negociadores irão fazer o melhor resultado que uma COP já pode oferecer ao planeta Terra.
Por isso um beijo no coração de vocês e até o final da COP.