Para a ministra da Igualdade e Racial, Anielle Franco, a participação de comunidades tradicionais e originárias, como quilombolas e indígenas, nos diálogos pelo enfrentamento da crise climática, acentua o protagonismo do Brasil para além da chamada COP da verdade. E também avança para uma COP que dá voz aos povos que, desde sua ancestralidade, sabe como cuidar de sua terra. Confira nesta entrevista a Gabriella Noronha, do Canal GOV.
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Ministra, como que está a participação do Ministério da Igualdade Racial nesse início de COP?
Acho que é importante lembrar que desde o início do governo nós temos uma secretaria especificamente para tratar de políticas para quilombos. Então, desde o início isso vem sendo construído, porque o presidente falava muito da importância de a gente estar aqui no coração da Amazônia, trazer essa COP para o centro do Brasil. E foi o que nós fizemos dentro do ministério, e dentro da secretaria (Secretaria de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos – SQPT).
O fato da gente ter quilombolas, povos de terreiro, ciganos, matriz africana, que são povos que cuidam do meio ambiente há muito tempo, fez com que a gente chegasse aqui pautando muito a incidência da transversalidade. Pautando muito os diálogos conjuntos com sociedade civil e governo. Então, essa é a nossa principal agenda, dar voz àqueles que antigamente não tinham.
Ministra, e falando sobre dar voz a essas comunidades tradicionais, houve uma preparação prévia, com o Círculo dos Povos, para qualificar a participação do Governo do Brasil. E a senhora fazia parte de uma das comissões do Círculo dos Povos, fala um pouquinho para a gente.
Com certeza, junto com Soninha (ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara) e a ministra Marina (Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima), que trabalharam e estão trabalhando incansavelmente para que essa COP seja essa COP conjunta, como a gente tem falado muito. Para além da COP da verdade, com diz o presidente, uma COP de participação social mesmo. Então, o Círculo dos Povos é mais uma inovação nossa, conjunta, para que a gente possa ouvir todo mundo que precisa, para que a gente possa entender as demandas e levar adiante. Eu costumo dizer que quem sabe dos quilombos são os quilombolas. Então, não dá para você pensar em construir ou renovar ou reformular alguma coisa sem ouvir essas pessoas.
Indígenas e quilombolas são agentes de preservação, agentes culturais, agentes de memória, agentes ancestrais e o Círculo dos Povos traz essas comunidades para dentro do governo para debater em conjunto.
E a expectativa, então, é realmente deixar um legado para Belém, para o Brasil e para o mundo?
Nós tivemos a marca disso, né? O presidente Lula chegar na abertura e falar de racismo ambiental, é muito importante. Lembrar que há dois, três anos, as pessoas zombavam quando falávamos disso. Eu mesma, particularmente, fui atacada diversas vezes, pessoalmente, on-line, quando a gente defendia o combate ao racismo ambiental. E ter o presidente falando, ter uma declaração que abre a COP 30 falando desse combate, vem aquela sensação de acalanto. Mas também de trabalho reconhecido e a certeza de que ainda tem muito chão pela frente.