O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) destacou, nesta quarta-feira (20/11), o papel estratégico da algicultura para a economia azul e para sistemas alimentares sustentáveis, durante o painel “Sistemas Alimentares Aquáticos como Soluções Climáticas”, no Pavilhão Brasil, na Blue Zone da COP30. No evento, o ministro André de Paula anunciou que o Brasil passará a integrar a Iniciativa Global para as Algas Marinhas — United Nations Global Seaweed Initiative (UNGSI) — “A algicultura tem um potencial extraordinário para o país. Ela integra biodiversidade, bioeconomia e desenvolvimento territorial, além de abrir novas oportunidades para produtores, pesquisadores e empreendedores. Estamos trabalhando para que o Brasil avance com segurança regulatória, conhecimento técnico e novos investimentos”, afirmou o ministro.
O painel, moderado pela Secretária Nacional de Aquicultura, Fernanda de Paula, reuniu representantes da FAO, da academia, de comunidades tradicionais e de organismos internacionais para debater o potencial das algas como bioinsumos estratégicos e soluções climáticas.
Algicultura como eixo da bioeconomia azul
Fernanda destacou que o Brasil avança na construção de um ambiente regulatório e produtivo orientado por ciência e inovação. Para ela, o setor pode se tornar um dos novos pilares da economia azul, com impacto direto em segurança alimentar, adaptação climática e geração de trabalho digno. “A algicultura reúne um potencial extraordinário, mas ainda enfrenta investimentos dispersos e regulações fragmentadas. Por isso, precisamos de uma abordagem colaborativa entre governos, agências internacionais, ciência, setor privado e comunidades costeiras”, disse.
Contribuições técnico-científicas e visão internacional
O chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Everton Luis Krabbe, reforçou a importância da pesquisa para o avanço sustentável do setor.
O representante do Ministério da Pesca do Japão, Teiji Hayashi, apresentou experiências do país na integração entre tecnologia e desenvolvimento costeiro.
Já Chantal Line Carpentier, da UNCTAD, destacou o potencial das algas para diversificar economias costeiras, criar empregos verdes e apoiar metas globais de mitigação.
Voz dos territórios: biodiversidade e soberania alimentar
A cozinheira tradicional Aparecida Alves, da Praia de São Gonçalo, Paraty, destacou resultados ambientais e sociais observados no cultivo comunitário. “Com o trabalho da Kappaphycus alvarezii, vimos a água mais limpa e a volta de espécies marinhas ao redor dos plantios. Isso mostra que a algicultura pode melhorar o território quando é feita com cuidado e conhecimento. Para que mais comunidades participem, precisamos de políticas públicas, informação clara e diálogo. A algicultura pode gerar renda e fortalecer a soberania alimentar, mas isso só acontece quando quem vive do mar é ouvido desde o início”, conta.
Ciência, clima e produtividade
O professor Nathan Barros (UFJF) reforçou o papel das algas no enfrentamento das mudanças climáticas. “A algicultura entrega alta produtividade sem competir com terra ou água doce e ainda sequestra carbono. É uma solução que conecta produção de alimentos, restauração ambiental e redução de emissões”, disse.
O que é a Iniciativa Global das Nações Unidas para as Algas (UNGSI)
A UNGSI é uma iniciativa da UNCTAD, com apoio da COI-UNESCO, FAO, UNIDO e do Pacto Global da ONU, que busca promover práticas sustentáveis de produção e comercialização de algas, fortalecer a inclusão de pequenos produtores e ampliar a cooperação internacional em sustentabilidade, ciência, comércio e inovação na algicultura. O MPA, por meio da Secretaria Nacional de Aquicultura e da Assessoria Internacional, participou da elaboração do Termo de Referência e da Nota Conceitual da iniciativa, ao lado de representantes de dez países e organizações internacionais. Madagascar, Indonésia e França já confirmaram participação; Brasil e Chile são apoiadores, ao lado do Banco Mundial, CEVA, CNRS, ISA, SAMS e outras instituições.
A UNGSI integra a Agenda de Ação da COP30, no eixo de Transformação da Agricultura e Sistemas Alimentares, com foco em sistemas mais resilientes e sustentáveis. No processo preparatório, o MPA liderou o Plano de Aceleração de Soluções “Múltiplos benefícios climáticos da algicultura”, em parceria com UNCTAD, FAO, a Coalizão dos Alimentos Aquáticos, as Aquatic Food & Ocean Breakthroughs e a WorldFish.