Diretor de Crédito do Basa, Roberto Schwartz, explica o papel na instituição financeira pública que tem como acionistas majoritária a sociedade brasileira e como finalidade apoiar o desenvolvimento sustentável
O Banco da Amazônia S.A. (Basa) é uma das cinco instituições financeiras de controle público – além de BB, Caixa, BNDES e Banco do Nordeste. Embora seja se economia mista, o acionista majoritário é a União. O banco foi criado em 1942 pelo governo de Getulio Vargas, então com o nome de Banco da Borracha. O objetivo era fomentar a produção e o o fornecimento do látex, inclusive para abastecer os países Aliados contra o nazifascismo, aos quais o governo de Vargas se aliou na Segunda Guerra Mundial.
A história é contada pelo diretor de Crédito, Roberto Schwartz, nesta entrevista ao Canal Gov. Ele falou sobre a importância do Banco da Amazônia para o desenvolvimento dos sete estados da região, onde responde por 60% das operações de crédito. “O banco tem um olhar todo especial para o pequeno produtor”, garante Schwartz.
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Qual a principal missão do Banco da Amazônia (Basa)?
O Banco da Amazônia é o principal agente de desenvolvimento sustentável na Região Norte. É um banco que financia atividades produtivas. Uma instituição com mais de 80 anos fundada no contexto da Segunda Guerra Mundial para financiar o fornecimento de látex para os Aliados que guerreavam contra o nazifascismo.
Por isso, a gente gosta de dizer que o banco já auxiliou a salvação do mundo uma vez e hoje nós nos colocamos também com partícipes da salvação do planeta. Não mais fornecendo látex para quem disputa uma guerra com armas e sim fornecendo créditos para aqueles que querem gerar emprego e renda na Amazônia sem que isso exerça qualquer pressão adicional sobre a floresta. É importante destacar que o banco é responsável por cerca de 60% de todo o crédito de longo prazo investido na Região Norte.
Isso significa que para cada R$ 10 que são utilizados no financiamento da criação de plantas industriais, da aquisição de máquinas e suprimentos agrícolas R$ 6 saem do Banco da Amazônia. Do látex à biodiversidade, que é um dos temas recorrentes mais importantes nesta COP 30.
De que forma o Basa contribui para desenvolvimento de projetos nessa linha?.
O banco detém o principal programa de microcrédito produtivo orientado da Região Norte. Também estimula toda a cadeia da sociobiodiversidade, seja no financiamento a manejo de culturas florestais não madeireiras.
E o que são essas culturas florestais não madeireiras? Manejo de castanha do Pará, manejo do açaí, manejo de cacau. Estímulo à produção de SAF – sistemas agroflorestais, integração, lavoura, pecuária, floresta. Isso faz com que a gente consiga promover emprego, gerar renda, aumentar a recuperação de áreas já degradadas sem exercer qualquer pressão adicional sobre a floresta.
O banco não financia a abertura de novas áreas. Não existe a possibilidade de o banco colocar aqueles 60% de crédito de longo prazo na derrubada de árvores. E, mais que isso, o crédito por si só é um agente muito importante para desenvolvimento, mas não consegue resolver todos os problemas.
Então, o banco promove a ação de diversos outros atores que estão dentro dessa cadeia. Esse ano, nós lançamos aqui na COP 30 um estudo que é uma parceria do banco, da ABDE, que é a Agência Brasileira de Desenvolvimento, e a AFD, que é a Agência Francesa de Desenvolvimento. Nós apeamos todos os elos da sociobioeconomia aqui na região. São mais de 150 cadeias, tanto do ponto de vista de fornecimento de bens e insumos, quanto do fornecimento de crédito para esses produtores.
Mas isso também não é suficiente, porque se você não tiver mercado, você não tem para onde escoar a sua produção. E o banco tem uma parceria muito grande com a Apex Brasil, de promoção de exportação, de abertura de novos mercados para esses produtos da sociobioeconomia, seja o açaí, seja a castanha do Pará, óleos essenciais, produções de povos originários, artesanato local.
Eu quero destacar que você começou respondendo com esse termo bem definidor, que é microcrédito produtivo. Claro que os bancos têm que olhar para os grandes produtores, mas é muito importante, especialmente numa região como a Amazônia, olhar para o pequeno produtor, não é isso?
O banco tem um olhar todo especial para o pequeno produtor. A gente costuma dizer que a gente promove desenvolvimento através do crédito em três grandes eixos.
O primeiro é financiando os empreendedores de menor porte. E os empreendedores de menor porte têm toda a prioridade, tanto que mais da metade do valor emprestado pelo banco são para clientes que têm porte micro, pequeno e médio. Em quantidade, a gente está falando que é mais de 90% das operações de crédito.
Só que todos esses micro e pequenos empreendedores, eles sofrem com uma necessidade que é premente na região, que é infraestrutura. Então, o banco também precisa financiar a infraestrutura aqui na região. Por quê? Imagine que você seja alguém que promove o manejo do açaí.
Você vai, coleta o fruto e você tem duas opções. Em 24 horas esse fruto não mais estará apto ao consumo. Ou você beneficia esse fruto, ou você vai vender para o atravessador que está passando na frente da sua propriedade, muitas vezes a preço que não é o mais adequado.
Imagina que você não tem energia elétrica estável na sua propriedade. Você deixa de ter duas opções e passa a ter uma única opção. Então, para a gente, financiar a infraestrutura elétrica é essencial; financiar vias de escoamento é essencial.
Senão o próprio pequeno não vai ser beneficiado. E aqui eu falei de dois vieses do desenvolvimento, mas eu havia dito que são três. Qual é o terceiro? O terceiro é a promoção de hubs de desenvolvimento.
A gente financiar uma agroindústria que vai beneficiar a produção de pequenos produtores, como nós temos no Acre, no Tocantins, em Rondônia, aqui no Pará. Da mesma forma, como a gente financia projetos de integração de mobilidade que também funcionam como hub de desenvolvimento.
Um exemplo é quando financiamos braços de ferrovia. O braço da ferrovia reduz muito a quantidade de caminhões nas estradas e isso contribui com a redução da emissão de gases de efeito estufa. Mas eles também requerem toda uma infraestrutura ao redor e essa infraestrutura é o que a gente chama do tal hub de desenvolvimento.
Pátio para atender caminhão, manutenção dos próprios trens, fornecimento de comida para essa população. Então tudo isso move a economia.
Uma outra iniciativa muito importante do banco é o Amabio (Programa Amabio – Financiamento Sustentável e Inclusivo da Bioeconomia Amazônica). Eu gostaria que você explicasse para nós o que é esse programa.
O programa Amabio é uma parceria entre o governo brasileiro e o governo francês. Ele é um programa que também contém crédito, mas é mais do que isso. Promove assistência técnica para empreendedores da sociobiodiversidade.
Ele financiou aquele programa que eu comentei mais cedo, de mapeamento da cadeia e do ecossistema de financiamento para a sociobiodiversidade. Isso tudo é fruto dessa parceria entre o Banco da Amazônia, a Agência Francesa de Desenvolvimento, o governo francês e o governo brasileiro.
Sabemos que o Banco da Amazônia está com uma presença forte na Green Zone, a Zona Verde, setor aqui da COP 30 que recebe representantes da sociedade civil. Explica para a gente o que está acontecendo por lá.
Nossa, nós estamos muito felizes com o resultado do que está acontecendo dentro do estande do banco na Green Zone. Todos os dias, a cada um dos dias, tem uma temática específica, onde a gente promove painéis, palestras, rodas de debate com os mais diversos atores do governo, da sociedade civil, iniciativa privada, universidade, e a gente vê o estande sempre cheio.
No mínimo, tem quatro eventos acontecendo a cada um dos dias e é super gratificante nós vermos estudantes, representantes da sociedade civil organizada entrando cada vez mais nesse debate. A gente costuma dizer que o nosso estande furou a bolha.
Nós não estamos mais discutindo naquele meio restrito em que eu falo para você, você fala para mim e nós dois concordamos. No fim do dia, a gente está conseguindo trazer muitos novos agentes e atuando como precisamos atuar, que é sermos uma caixa de reverberação do conhecimento e da distribuição do saber, que vai fazer com que cada um seja um agente de desenvolvimento e um agente multiplicador dessa visão que o Governo do Brasil e o Banco da Amazônia têm na promoção do desenvolvimento sustentável.