World Without Cows é uma produção audiovisual rodada em vários países. Dela, um vídeo com depoimentos de pecuaristas brasileiros foi apresentado na manhã desta terça-feira (18), na AgriZone – a Casa Sustentável da Embrapa –, durante painel da COP 30 que debateu os desafios e conquistas do setor, e que buscou desmistificar percepções negativas sobre a indústria da carne.
A edição voltada ao Brasil faz parte de um documentário maior, que apresenta a realidade de pecuaristas em 20 países e 40 locais. O documentário completo foi lançado em Belém (PA).
Clodys Menacho, diretor comercial da Alltech – empresa de nutrição animal e uma das promotoras da atividade junto da Embrapa –, explicou que os objetivos do projeto “ World Without Cows ”, ou mundo sem vacas, em tradução livre, é comunicar e estimular um debate amigável sobre o papel da pecuária no mundo. De acordo com o painelista, a iniciativa também visa apresentar dados e conhecimento científico sobre a produção, combater a desinformação e dar voz e visibilidade ao trabalho dos produtores.
Discussões sobre a pecuária brasileira
A parte brasileira do documentário – “World Without Cows Brazil: The Battle for Balance” (Mundo sem vacas Brasil: a batalhapor equilíbrio) – mostra a percepção e as vivências de pecuaristas situados na região amazônica brasileira: são propriedades com 78 hectares, com 4,8 mil hectares e com 34 mil hectares. O material conta com depoimentos da pesquisadora da Embrapa Gado de Corte (MS), Mariana Aragão.
Situadas nos estados do Pará, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, respectivamente, as propriedades foram apresentadas como modelos pelo uso de boas práticas para aumento da produtividade e, consequentemente, da produção sem expansão para novas áreas. Segundo dados do painel, dos 5 milhões de produtores no Brasil, metade cria bovinos, sendo 75% de pequenos e médios, que detém 30% dos rebanhos nacionais. O País abriga o segundo maior rebanho do mundo.
Durante o vídeo, a pesquisadora reforça que a legislação brasileira, em alusão ao Código Florestal, é uma das mais rígidas do mundo – a Reserva Legal deve ocupar entre 20% e 80% das áreas das propriedades, dependendo do bioma. “A pecuária não precisa desmatar. A área de pastagens no Brasil não está aumentando, mas a produção de carne, sim. Isso é aumento de produtividade, que só se faz com investimento em pesquisa”, avaliou.
Os 40 milhões de hectares de pastagens com algum tipo de degradação no País também foram vistos como potenciais espaços para crescimento do setor sem desmatamento; e para sequestro de carbono da atmosfera. “Há condições de se duplicar as áreas de grãos, pecuária e florestas plantadas, sem derrubar uma única árvore”, complementa.
A reflexão que envolve a frase “um mundo sem vacas”, estampada em camisetas e bonés, diz respeito aos significados econômicos, culturais e nutricionais dos bovinos; e aos impactos no clima. “A pecuária vai muito além da produção de alimentos. Faz parte da sobrevivência e da cultura de muitas pessoas. E temos condições de impactar positivamente a agenda climática. Nenhuma atividade econômica tem potencial de reduzir as emissões como a agropecuária”, avaliou Mariana.
O painel também contou com a participação de Altair Burlamaqui, representante da terceira geração de uma família de pecuaristas de Belém, que atua há 14 anos na atividade. A apresentação foi do pesquisador da Embrapa Acre (AC) Daniel Lambertucci e a moderação da pesquisadora Mariana Aragão.
Assista à versão brasileira do vídeo:
Exemplo do impacto cultural da atividade no Quênia
A gestora de projetos e líder climática da Federação Nacional dos Agricultores do Quênia, Lily Tanui, disse que a pecuária tem aspectos multifuncionais para o país, integrando parte da cultura e da identidade local. Por esse motivo, afirma que é necessário o investimento em uma produção sustentável para manutenção da atividade. Para isso, segundo ela, é preciso empoderar e deixar os produtores contarem suas próprias histórias. “Temos muitos dados e informações que os produtores não entendem. É preciso os trazer para as discussões, sem tomar decisões que eles não compreendam”, complementou.