Previsões iniciais de inflação, crescimento do PIB e resultado primário estão muito próximas dos resultados até agora. Acertos foram ressaltados pela Secretaria de Política Econômica em coletiva ao divulgar o Boletim Macrofiscal de novembro
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A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (SPE/MF) apresentou na quinta-feira (13/11) o Boletim Macrofiscal, com previsões de indicadores macroeconômicos e do Prisma Fiscal. Também foi realizada a divulgação do Panorama Macroeconômico. Em entrevista coletiva, os técnicos destacaram que as projeções do ministério, feitas no início do ano, mesmo antes de percalços como o tarifaço dos Estados Unidos, estão confirmando acuidade e conexão com o mundo real.
Um dos temas da entrevista foi a a revisão do prognóstico de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025: de 2,3% (boletim de setembro) para 2,2% (novembro). Esse ajuste decorre de desacelerações nos setores da indústria e de serviços, compensada por alta na agropecuária. Para 2026, foi mantida projeção de crescimento de 2,4% no PIB.Mesmo neste ponto, as projeções iniciais mostram solidez, segundo o secretário nacional de Política Econômica, Guilherme Mello. Segundo ele, essa nova estimativa oficial de alta do PIB de 2025 está alinhada às projeções apresentadas pela SPE desde o início do ano, de um crescimento mais forte no primeiro semestre, alavancado pelo PIB agrícola, com o restante do período mais próximo da estabilidade.
Se confirmou a trajetória que projetamos desde o início do ano, de que [após o primeiro semestre] haveria uma moderação da taxa de crescimento, ajudando a ancorar a inflação”, afirmou o secretário.
Guilherme Mello ressaltou que, mais uma vez, os resultados efetivos da economia (assim como as projeções da SPE) contrariaram as expectativas pessimistas de mercado, que no início de 2025 apontavam para crescimento bem mais modesto e inflação mais elevada. “Estamos chegando ao final do ano com um resultado efetivo muito similar ao que enxergávamos no começo de 2025”, reforçou. A subsecretária de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal, completou que o mesmo ocorreu nos anos anteriores, quando o mercado precisou “correr atrás” das projeções da SPE.
Apesar de todas essas incertezas e eventos pontuais que passamos durante o ano de 2025, a nossa interpretação prevaleceu”, comentou Mello.
Uma das incertezas, explicou, envolvia o comportamento da inflação, após a alta dos preços dos alimentos no final do ano passado. “Mas o nosso cenário base, ainda no início do ano, incluía uma desaceleração importante nos preços de alimentos”, advertiu. Nem mesmo o “tarifaço” norte-americano conseguiu desestabilizar as projeções, apontou o secretário.
“Chegamos ao final do ano com um resultado condizente com a estratégia traçada pelo Ministério da Fazenda e o governo desde o início. Uma política econômica que colaborasse com a ancoragem da inflação ao longo do ano, em particular no primeiro trimestre, quando havia uma pressão inflacionária mais forte”, comentou o titular da SPE.
Acesse a seguir o material divulgado pela SPE/MF e analisado durante a coletiva:
Boletim Macrofiscal de novembro de 2025
Apresentação sobre Boletim Macrofiscal de novembro de 2025
Panorama Macroeconômico de novembro de 2025
Conforme apontou Guilherme Mello, houve contribuições tanto da política monetária quanto da política fiscal nesse processo de ajuste. “Há uma coordenação na ação das duas políticas. A execução orçamentária, em particular no primeiro semestre, foi mais restrita, com um impulso fiscal bem menor que nos anos anteriores, combinada com uma política monetária também mais restritiva.
E isso gerou um resultado de gradual desaceleração sem ruptura, mantendo o mercado de trabalho saudável, intenso, e permitindo a reancoragem da inflação e de suas expectativas. Ao mesmo tempo, houve desaceleração da atividade, também gradual, culminando em uma taxa de crescimento do ano próxima ao que é entendido como o PIB potencial brasileiro”, explicou o secretário de Política Econômica.
Resultados notáveis
Guilherme Mello ressaltou diversos indicadores de sucesso da estratégia executada desde 2023. “No conjunto desses três anos e com as projeções para o ano seguinte, temos a menor taxa de inflação acumulada em quatro anos desde o início do Plano Real; a maior taxa de crescimento em quatro anos e em mais de uma década. Também as menores taxas de desemprego, pobreza e de miséria da nossa história. O Brasil voltou a sair do mapa da fome”, disse o secretário. Ele lembrou, ainda, que o próprio setor privado estima que em 2026 será alcançado o maior nível de investimento em infraestrutura da história do País. “Todos esses são resultados particularmente positivos”, afirmou Mello.
Os avanços obtidos desde 2023 também envolvem o campo fiscal, alertou o secretário. “Quando observamos o resultado fiscal nesses últimos três anos o governo entregou o resultado que ele propôs. Entregou e vai entregar novamente”, disse Guilherme Mello, em referência ao déficit público dentro da meta. “Déficit primário zero. Mesmo que somados precatórios e eventuais gastos que estão fora dessa conta, o resultado primário brasileiro vai ser algo próximo de zero”, destacou o secretário de Política Econômica.
Detalhamento
A subsecretária de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal, apresentou os fatores que levaram ao ajuste na projeção de alta do PIB de 2025 (de 2,3% para 2,2%) e de inflação de 2025 (de 4,8% para 4,6%). O primeiro ponto destacado foi a manutenção da política monetária restritiva (atualmente, a taxa básica de juros do país, a taxa Selic , está em 15% ao ano). “Isso explica a desaceleração no ritmo de atividade que estamos vendo, neste momento, na economia brasileira”, afirmou.
Raquel explicou que a taxa de juros real (quando se desconta dos juros futuros a expectativa de inflação de 12 meses à frente) atinge atualmente patamar muito próximo a 10% ao ano. “É o patamar mais alto dos últimos 10 anos, pelo menos. Mais alto, inclusive, que o patamar observado em 2016, quando a inflação rondava a marca de 10% anual.”
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“Estamos em um momento de política monetária realmente bastante restritiva e isso está, claramente, impactando o ritmo de atividade”, pontuou Raquel Nadal. Os juros altos, alertou, já impactaram as concessões de crédito bancário e desaceleraram o dinamismo do mercado de trabalho.
Nesse cenário, a SPE passou a projetar crescimento de 2,2% para a economia brasileira em 2025. “Uma revisão marginal, que reflete aumento da expectativa para o PIB agropecuário e revisões mais para baixo no crescimento projetado para a indústria e serviços”, completou a subsecretária. A estimativa de crescimento da agropecuária em 2025 subiu de 8,3% para 9,5%. Já a projeção para a indústria foi revisada de 1,4% para 1,3% no ano; e a de serviços, de 2,1% para 1,9%.
Em relação à perspectiva de menor inflação no ano, o Boletim aponta que a variação “reflete efeitos defasados do real mais apreciado; a menor inflação no atacado agropecuário e industrial; e o excesso de oferta de bens em escala mundial como reflexo dos conflitos comerciais”. As projeções atuais consideram bandeira tarifária amarela para a energia elétrica em dezembro. Caso a bandeira mude para verde, crescem as chances de inflação dentro do intervalo da meta ainda em 2025.
Prisma Fiscal
Resultados do Prisma Fiscal de novembro foram antecipados pela coordenadora-geral de Política Fiscal, Tereza Assis, durante a coletiva de quinta-feira, revelando melhora em expectativas de mercado em relação ao comportamento da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) em relação ao PIB. A mais recente pesquisa indica projeção de 79,54% na relação DBGG/PIB em 2025, abaixo das estimativas anteriores (de 79,60%, em outubro; e de 79,74% em setembro). “As instituições têm revisado para baixo, consistentemente, as suas projeções para o indicador DBGG/ PIB”, afirmou.
Por outro lado, houve uma pequena elevação das estimativas de resultado primário de déficit primário para 2025. “Em setembro, as instituições previam projetavam déficit de R$ 69,99 bilhões para 2025. Essa projeção de déficit foi elevada para R$ 70,64 bilhões em novembro. Mas é importante registrar que em outubro contávamos com o menor patamar de déficit primário estimado para 2025: R$ 67,57 bilhões”, informou Tereza Assis. “Apesar dessa pequena elevação em novembro, as instituições que participam do Prisma Fiscal permanecem projetando o cumprimento da meta fiscal no ano de 2025”, reforçou a coordenadora.
O Prisma Fiscal é o sistema de coleta de expectativas de mercado criado e gerido pela SPE para acompanhamento da evolução das principais variáveis fiscais brasileiras sob a ótica de analistas do setor privado. O boletim de novembro está programado para ser divulgado nesta sexta-feira (14/11).
Tarifaço dos EUA
Análise da SPE sobre o impacto das tarifas comerciais norte-americanas sobre as exportações brasileiras e o Plano Brasil Soberano foi apresentada pelo coordenador-geral de Projeções Econômicas, Rafael Leão. “Quando pegamos o período entre agosto e outubro, as vendas para os Estados Unidos recuaram cerca de US$ 2,5 bilhões, comparando ao acumulado de agosto a outubro deste ano com o do ano anterior. Isso representa uma queda de 25%. Durante esse período, tal movimento foi se intensificando, mês a mês”, ressaltou. O estudo da SPE mostra que setores mais prejudicados foram os de petróleo bruto, carne bovina congelada, celulose de eucalipto, ferro bruto e açúcar refinado.
Apesar da retração nas exportações para os Estados Unidos, as exportações totais brasileiras seguiram crescendo. Crescimentos nas exportações para Argentina (+22%) e China (+25,7%) compensaram perdas nas vendas ao mercado norte-americano, com um ganho conjunto de US$ 6,5 bilhões. Os principais destaques nessa alavancagem de exportações para a Argentina foram automóveis, caminhões-trator, energia e veículos leves. Para a China, os destaques foram soja, carne bovina, petróleo e minério de ferro.
“O Plano Brasil Soberano tem sido decisivo nesse processo”, destacou o coordenador-geral de Projeções Econômicas da SPE. Esse plano contou com 517 operações de crédito até início de novembro, somando R$ 7,1 bilhões; R$ 4 bilhões de capital de giro para diversificação de mercados; além de R$ 3,1 bilhões para capital de giro tradicional, informou a SPE. A análise mostra que até agora foram 126 grandes empresas e 391 micro, pequenas e medias empresas (MPMEs) beneficiadas. Rafael Leão lembrou que aprimoramentos recentes no Plano Brasil Soberano tendem a potencializar os resultados, protegendo cadeias produtivas e empregos, ao mesmo tempo, diversifica a lista de países compradores de produtos brasileiros.
Confira a entrevista coletiva da SPE para divulgação do Boletim Macrofiscal e do Panorama Macroeconômico