Enviadas especiais da COP 30 realizaram viagens por todos os biomas brasileiros para conhecer as realidades das mulheres. Nas negociações, um novo Plano de Gênero é debatido pelas partes
O tema gênero esteve no centro do debate da COP30 nesta quarta-feira, 19/11. A sessão “Mulheres: Vozes que Guiam o Futuro” integrou a programação das salas da Agenda de Ação e teve como objetivo mostrar como as mulheres contribuem e atuam pela ação climática.
Na ocasião, foi exibido um vídeo como resultado do projeto “Vozes dos Biomas”, realizado em conjunto pelas enviadas especiais da COP30 para Mulheres, Janja Lula da Silva; para Direitos Humanos e Transição Justa, Denise Dora; e para Igualdade Racial, Jurema Werneck. Durante o ano, elas visitaram os cinco biomas brasileiros para conhecer soluções sustentáveis desenvolvidas por mulheres.
“Em cada lugar encontrei dezenas de mulheres que vivem na linha de frente da mudança do clima. Agricultoras familiares, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, pesquisadoras, lideranças comunitárias, gestoras públicas e empreendedoras mulheres que mesmo convivendo com perdas, com escassez, violências e desigualdades seguem criando soluções para proteger a vida, garantir direitos e manter vivas as condições que sustentam suas comunidades”, contou Janja.
Jurema Werneck, que também é médica e diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, destacou o pedido de urgência de ação climática percebido nos territórios. “As mulheres, em diferentes territórios, estão dizendo que a crise precisa ser entendida como emergência. E a resposta tem que ser imbuída deste sentimento emergencial de salvar todas as vidas, salvar todos os biomas, salvar a existência e as culturas que proliferam por ali. A gente viu fogo na terra úmida, a gente viu a seca na terra alagada, a gente viu a fome onde antes tinha profusão. Mas, a gente viu a insistência das mulheres em refazerem a vida”, disse.
Vivência
Advogada de direitos humanos e ativista feminista, Denise Dora é gaúcha e relembrou como as enchentes do Rio Grande do Sul mostraram a importância de trazer as experiências locais para dentro do debate da COP30.
“Passei o ano passado pela experiência de ter um estado inundado, com um número enorme de pessoas que perderam suas casas, suas memórias, suas cartas, seus livros. Especialmente, acompanhei a experiência de mulheres nesse processo de reconstrução que foi muito duro. A experiência de ir para abrigos, por exemplo, e acabar encontrando a violência sexual, a discriminação no acesso a alimentos”, relembrou a enviada especial de Direitos Humanos e Transição Justa.
“Então, evidentemente, ouvir como as mulheres, nos diversos biomas brasileiros, estavam vivendo essas crises, essas emergências, como que elas resistiam a isso e como elas buscavam soluções para enfrentá-las era a coisa, na nossa opinião, mais importante que a gente poderia trazer como mensagem para a COP30”, acrescentou.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou a cultura ancestral das mulheres de cooperarem para enfrentar situações adversas. “As mulheres sabem compartilhar a teoria das coisas. As mulheres conseguem compartilhar a realização. E as mulheres gostam de compartilhar o reconhecimento. Existe uma forma cartesiana de que é tudo para o líder. Mas, o mundo precisa saber compartilhar. E é isso que nós estamos fazendo aqui para que a gente tenha um mundo próspero, diverso e sustentável”, afirmou.
Plano de Ação de Gênero
Durante o encontro, também foi discutido o Plano de Ação de Gênero, que está em negociação durante a COP30. O documento atualiza o Programa de Trabalho Aprimorado de Lima sobre Gênero, aprovado em 2014, na COP20.
A embaixadora Vanessa Dolce, Alta Representante para Gênero do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, detalhou como está ocorrendo o debate sobre o Plano na mesa negociadora.
“Começamos ontem à noite as consultas ministeriais. A presidência brasileira da COP designou dois países para discutir Gênero: a Suécia e o Chile, cujas ministras estão capitaneando conversas com chefes de delegação e grupos negociadores”, disse.
“Nós temos a pretensão política e negociadora de que gênero não fique isolado numa sala de negociação. Enquanto o gênero ficar reduzido e isolado numa sala específica de negociação a ação climática não vai ser eficaz”, acrescentou a embaixadora.
A também embaixadora do México, Patrícia Espinosa, enviada especial da COP30 para a América Latina e Caribe, relembrou que progressos para os assuntos de gênero no debate internacional estão sendo conquistados, apesar do ritmo lento.
“O Fundo de Adaptação, por exemplo, criou um mecanismo para apoiar projetos muito pequenos, mas comunitários. E esses projetos são, muitas vezes, liderados por mulheres. Então, acho que estamos avançando, mas a luta precisa continuar no nível das negociações e também no nível nacional”, celebrou.
A primeira-dama, Janja Lula, então, resumiu: “A questão de gênero não pode mais ser um anexo das decisões aqui na COP. Que esse seja um momento que nos mova, um momento que desperta esperança, mas também responsabilidade, porque cada passo que damos na ação climática é um passo para que as mulheres vivam com mais dignidade. Cada avanço da igualdade de gênero nos aproxima do mundo capaz de superar a crise climática”.
Participaram do evento também Cecile Ndjebet, ativista ambiental de Camarões; Luciana Leite, cofundadora da Chalana Esperança; e Elida Nascimento Monteiro, do quilombo de Itacoã (Belém), líder da organização quilombola Malungu.
Por: Mayara Souto/COP 30