Confira a entrevista completa ou leia a seguir:
Eu gostaria de começar a nossa conversa, Vinícius, repercutindo uma fala importante sua que diz o seguinte, “sem a participação de pequenas e médias empresas, torna-se mais difícil atingir as metas de redução da emissão dos gases de efeito estufa”. Gostaria que você explicasse essa sua visão.
Muito bem, excelente pergunta. No Brasil, são 90 milhões de pequenos negócios, aliás, são 22 milhões de pequenos negócios, mas pouco mais de 90 milhões de pessoas dependem dos seus empregos e da renda dessa família dos pequenos negócios.
Tem uma importância numérica gigantesca, mais de 98% dos pequenos negócios, são grandes geradores de emprego, portanto, já devem fazer parte de qualquer equação de desenvolvimento, que ela se pretenda justa, inclusiva e sustentável. O poder de compra desses pequenos da base da pirâmide, mas também como atores econômicos, como agentes econômicos. Sem os pequenos negócios, dificilmente as grandes empresas consigam atender o escopo 3, que é a descarbonização ao longo da cadeia de valor.
Então, os pequenos negócios já têm uma importância muito grande, porque grande parte deles se relaciona com as grandes empresas e nós temos grandes projetos com essas corporações em que já começamos a colocar a descarbonização na equação de gestão dos pequenos negócios. Mas também porque os pequenos negócios estão em todos os biomas, diferentemente de uma grande empresa, que está mais concentrada, o Brasil tem uma concentração industrial muito grande, o agro é mais expandido, mas é em todo um dos 5.570 municípios brasileiros que ele tem um pequeno negócio. E ele está próximo dos biomas da Caatinga, do Cerrado, dos Pampas, dessa exuberante floresta amazônica.
Então, é muito importante que eles que estão lá possam encontrar também respostas para que o Brasil possa apresentar uma NDC para o mundo que descarbonize em todos, não importa o tamanho do negócio. Por isso que eu sempre coloco, e nossa posição é, sem os pequenos é uma transição energética ou para uma transição climática incompleta. É preciso envolver os pequenos, quer pela dimensão da transição justa, quer porque eles são parte das respostas.
O pensamento comum sobre empreendedorismo muitas vezes remete à cidade, ao ambiente urbano. E, no entanto, como você está colocando para nós, em todos os biomas, em todas as regiões, há um número muito grande de pequenos empreendedores e, muitas vezes, a relação deles com o território já é marcada por um cuidado, um respeito e, naturalmente, eles têm essa tendência de realizar a sua atividade, mas preservando o espaço. Porém, é necessário ações iniciativas que orientem, que eduquem.
Então, nesse sentido, eu pergunto, o Sebrae tem colocado como prioridade a sustentabilidade dos negócios? O que ele oferece hoje para o empreendedor brasileiro, em termos de informação, de apoio ou até mesmo de linhas de financiamento para que os empreendimentos sejam sustentáveis?
Muito antes da Rio+, o Sebrae já tinha abraçado a questão ambiental. Eco 92 trouxe essa pauta e o mundo todo foi abraçando. E no Rio, efetivamente, é um ponto de transição importante e, evidentemente, todas as grandes conferências, sobretudo a de Paris, a COP 21, que trouxe essa agenda para uma altíssima prioridade.
Há 15 anos, o Sebrae estruturou um Centro Sebrae de Sustentabilidade para poder trazer boas práticas de gestão para mostrar que sustentabilidade é um bom negócio. E foi relativamente mais fácil essa transição para a eficiência energética, a eficiência hídrica, a gestão dos recursos, tipo o lixo que não é lixo, o resíduo que pode ser incorporado dentro de uma economia circular. Então, ao longo desses 15 anos, vimos trabalhando com essa pauta da sustentabilidade, mostrando que, em busca da sustentabilidade, o pequeno negócio encontra maior eficiência, que se reporta já na conta de luz no fim do mês.
Então, essa primeira fase da sustentabilidade, da compreensão de que era preciso caminhar para a economia mais verde, foi mais fácil. Mas nós estamos enfrentando aqui uma outra agenda, que é a agenda climática, que requer uma compreensão de como os gases de efeito estufa, o ciclo do carbono, mas também do metano e de outros gases, são tratados dentro de cada cadeia de valor. Para cada um você tem um maior uso, ou não, de energia fóssil, tem um maior impacto.
Então, estamos trazendo essa compreensão, despertando a consciência, que é o primeiro nível, como a gente já fez lá atrás, com a sustentabilidade em geral, vimos fazendo com a agenda ESG, agora é a agenda climática, a agenda de ação da implementação. E aí, a gente tem que ter a humildade de compreender, como você bem falou, que existem comunidades que já vivem um processo mais sustentável do que a economia que está posta aí como mainstream, dentro de um contexto mais global, e bebendo a fonte da ancestralidade, dos conhecimentos tradicionais. A nossa abordagem tem que ser de escuta, de construir confiança para que a gente possa então introduzir técnicas de gestão mais contemporâneas, com tecnologia, facilitando o acesso a crédito, fazendo eles entenderem que essa prática vai permitir tokenizar ou criar um registro desse carbono que reduz o impacto na atmosfera e ser monetizado.
Então, é um processo de transição, nós estamos apostando na bioeconomia como sendo uma resposta, apostando no carbono azul da agricultura, apostando em atividades artesanais sustentáveis na agricultura regenerativa, mostrando que a sustentabilidade ou a agenda climática pode ser produtiva e muito eficiente economicamente. E a gente espera que essa batalha seja ganha do ponto de vista da compreensão do engajamento e da adoção de melhores práticas. É verdade.
Nesse contexto de debater as mudanças do clima, a gente tem ouvido com mais frequência a defesa das florestas, principalmente. Claro, temos que defender os rios e outros aspectos dos nossos biomas, mas a gente precisa lembrar também que as pessoas que habitam esses espaços, esses territórios, as florestas, as margens dos rios, precisam ser protegidas tanto quanto o território, o ambiente, propriamente. O Sebrae tem essa preocupação em relação aos empreendedores que habitam regiões mais ameaçadas pela mudança do clima?
Sem dúvida.
Tanto nos biomas, nos seis biomas, grandes biomas brasileiros, como aqui na Amazônia, na Caatinga, no Cerrado, na Mata Atlântica, nos Pampas, no Pantanal, o nosso cuidado é observar as práticas já existentes e como respeitar esses agentes econômicos, pescadores, extrativistas, artesãos, produtores de alimentos, que fazem, inclusive, práticas que ajudaram durante milênios a esse bioma estar de pé.
Então, a nossa, e o presidente Lula deixou muito claro, é preciso olhar por além das copas das árvores, quem vive, quem está aqui embaixo, os ribeirinhos, os indígenas, o caboclo, o quilombola, o pescador, as mulheres que estão envolvidas também em práticas sustentáveis. Então, a nossa abordagem, a estratégia de desenvolvimento, que tem um recorte territorial também, ele leva em consideração essa diversidade de ambientes e de desafios que precisam ser incorporados em uma equação de negócio, na abordagem setorial.
Não adianta a gente imaginar que o desenvolvimento vai se dar apenas pelo lado da economia. Muitas vezes passa por essa construção de estratégias comunitárias, de envolvimento da população local, de trazê-los para uma economia sustentável, mais tecnificada e que possa acessar mercados. Portanto, aquilo que ele está fazendo, de preservando já o bioma, possa também ser monetizado e esse é o nosso esforço.
Muito bom. Vinícius, para nós encerrarmos, eu deixo você bem à vontade para destacar as ações principais, plataformas, por exemplo, tudo que o Sebrae trouxe para a COP 30 e que você vê que está muito alinhado realmente com os objetivos da conferência.
Várias iniciativas tiveram aqui o lugar de lançamento. A gente vem trabalhando ao longo do ano, uma jornada, a COP não é um ponto de chegada, é um ponto numa jornada de futuro. O Brasil começa a partir daqui, a presidência da COP brasileira e, portanto, o Sebrae que apostou junto com o governo brasileiro e outros parceiros em realizarmos uma COP que fosse consequente, que tivesse, de fato, incorporado a transição justa, incorporado os pequenos negócios na equação de solução, que tivesse, portanto, uma compreensão dos fundos verdes e de como esse recurso pode chegar aos pequenos. Então, junto com o BNDES, por exemplo, e o MEMP, Ministério das Mínimas e Pequenas Empresas, lançamos uma plataforma que mapeia o ecossistema de financiamento verde e facilita a compreensão e os caminhos para o pequeno negócio poder acessar esses fundos, essas linhas de financiamento.
Lançamos também o Acredita Sustentabilidade com um fundo garantidor que tem taxas diferenciadas de garantia para quem adota práticas sustentáveis. Lançamos também uma plataforma de políticas públicas ou um manifesto de políticas públicas listando, a partir de escuta em todo o Brasil, as diferentes percepções sobre a agenda do clima e como enfrentá-la. Do ponto de vista da relação com os entes subnacionais, municipalidades, as agentes territoriais, fizemos também diversas iniciativas.
Tivemos mais de 40 seminários, painéis no nosso stand. O maior stand da COP 30 é o nosso, com uma loja que já vendeu mais de 500 mil reais de produtos que vêm da biodiversidade. E, por fim, nos aproximamos de um ecossistema de instituições, de parceiros nacionais, fortalecemos relações com grandes corporações que são parceiros também da nossa ação na ponta e, por outro lado, dos organismos internacionais, daqueles que aqui vieram.
Acho que a gente ajudou a construir uma COP 30 consequente, uma COP 30 que terá resultado sim de implementação. Eu acho que o espírito daquilo que o Brasil adotou e o embaixador Correia do Lago vem falando do espírito do mutirão, as respostas não vão caber aos grandes, nem aos pequenos isoladamente, aos governos, nem à iniciativa privada. Teremos desafios que terão que ser enfrentados com o espírito do mutirão.